sexta-feira, abril 22

O meu 25 de Abril/74

É frequente colocar-se a pergunta, " Onde estavas no 25 de Abril/74 ?".
Pois eu, estava bem longe, em terras de Moçambique, a cumprir o serviço militar!
E por inerência das funções que desempenhava, às 7.30 da manhã, quando cheguei ao meu serviço, tomei conhecimento do que em Lisboa se estava a passar! Pouco depois todos os militares desse serviço fomos convocados para uma reunião com o comandante que nos informou que, "não podiamos dizer a ninguém o que se estáva a passar"!
Como é natural, a apreensão era muita pois as notícias que íam chegando eram pouco claras!
Eu pedi para sair por umas horas e fui "grudar-me" a uma velha telefonia que tinha naquilo que foi a minha casa durante dois anos, que em ondas-curtas me permitia ouvir a BBC, a ORTF e outra emissões da Europa!
Assim, passei quase todo o dia 25 entre o quartel e a minha velha telefonia!
Foi assim o meu dia de 25 de Abril de 1974.
No dia 26, junto do elemento que representava o MFA em Moçambique, Capº. Aniceto Afonso, eu e mais alguns questionávamos qual a posição que o Cmdt Militar, Gen. Diogo Neto, assumia? Claro que o general ficou a aguardar para ver a evolução dos acontecimentos, não fosse assumir alguma posição que não fosse concentanêa com o que em Lisboa se passava!
Só a 27 de Abril tomou uma posição oficial e pouco depois voava para Lisboa para integrar a Junta de Salvação Nacional!
Assim não vivi a festa de Abril nem o 1º de Maio em liberdade!
Depois, foi ver o tempo passar, ver os "irmãos " da Frelimo a entrarem no Quartel General, ver algumas manifestações de africanos, uma delas chefiada por Joana Semião e que provocou alguns tumultos, conversar com o Ten. Coronel Paranhos Teixeira e ouvi-lo dizer que o que se estava a passar não era nada do que havia sido acordado na reunião em Lusaka onde ele tinha estado presente, assistir a uma sessão de esclarecimento numa instalação militar, feita por Vitor Crespo, ao mesmo tempo que no exterior um "branco" atirava a sua viatura para cima dum grupo de africanos que lhe barravam a passagem, ver os indianos (monhés) fugirem para a cidade pois os africanos estavam a assaltar e pilhar os seus estebelecimentos e a provocar vitimas, "sentir na pele" os africanos a confrontarem e provocarem os brancos, até chegar o dia de dizer Adeus Moçambique!
Cheguei a Portugal nos últimos dias de Agosto e, uns dias depois, havia um comício do MDP no cinema de Faro! À entrada, o meu amigo Tó Zé Cabelinho "cravou-me" quinhentos paus para ajudar o partido e eu dei julgando que estava a contribuir para uma "boa causa"!
Pois esse comício foi para mim uma desilusão! As palavras que mais ouvi foram "abaixo", "vamos acabar com eles", "destruir",.............
Julgava eu, "santa ignorância", que o 25/4 tinha sido feito para deixar como estava o que estava bem e mudar o que estava mal!
Depois foi ver tudo aquilo que ficou para a história, as consequências do que se passou, e ficar dia após dia cada vez mais desapontado com a politíca e os plíticos do meu país. Ao ponto de me ter tornado "cizento", isto é, não me conseguir identificar com nenhum partido político deste cantinho à beira mar plantado!
Uma última palavra para o que mais me chocou no pós 25/4:
a juventudo que desertou, e não o fez em 95 %, por questões ideológicas mas sim por medo de ter que ir parar à guerra colonial, passou a ser tratada como "heróis"!
Os outros, como eu, que lá estivemos, passámos a ser os "traidores" que estivemos a defender os interesses dum regime faxista!
É assim a vida....