sexta-feira, abril 15

Rotunda da Fonte Rachada...

(Recebi do autor o texto e que foi publicado no "Avezinha")

CRÓNICAS A ESMO

AS ÉPOCAS E SUAS MARCAS
António Belchior

Ao longo dos tempos houve épocas que ficaram recordadas pelas figuras que decididamente as influenciaram.
Figuras que ficaram nos anais da história em muitos casos, enquanto outras passaram tão fugaz e anonimamente que nem deram para citar em nota de rodapé.
A Inglaterra, por exemplo, foi profundamente influenciada pela época vitoriana. A Rainha Vitória, senhora de um pulso forte e espírito pragmático, quase fundamentalista, estabeleceu regras, orientou medidas de fundo, deu confiança a quem a mereceu e fomentou o progresso. Sob a Rainha Vitória a Inglaterra dominou um quinto do mundo.
De certo modo, dividiu o espaço e os tempos.
Assim se entende que seja citada uma Grã – Bretanha pré vitoriana e outra vitoriana, com repercussões no futuro.
Na sua dimensão, Faro tem igualmente duas épocas que poderiam classificar-se do mesmo modo: pré vitoriniana e vitoriniana.
Na pré, embora sujeita a solavancos, de certo modo a cidade modificou-se.
Em termos de acessos, manutenção, execução de projectos, embelezamento, etc., alguma coisa se viu. Um pouco de tudo, de bom e de mau é certo, mas existiu.
Na época vitoriniana, talvez seja miopia, mas quase nada de importante, de novo, de concebido e feito de raiz, se observa.
As obras feitas, que poderiam querer apresentar-se como emblemáticas de uma gestão, são projectos da gestão anterior.
Mercado Municipal, Teatro Municipal, Parque de estacionamento da Pontinha, apenas para citar alguns exemplos, são obras projectadas e aprovadas pela anterior presidência e automaticamente metidas na gaveta a levedar alterações de volumetria ou outras. Certamente por coincidência, foram iniciadas de modo a conjugar a sua conclusão com discursos e campanhas eleitorais para novo mandato…
Nova mesmo, imponente e artística, obra de causar pasmo e inveja a quem quer que visite Faro, é a Fonte.
A fonte que encabeça uma rotunda de acesso à cidade, é o seu ex-libris vitoriniano.

A super famosa ROTUNDA DA FONTE RACHADA.*

Um monte de terra graciosamente empilhada, rodeando com suavidade quase poética uma fatia de cimento com racha ao meio.
Cercadura em grinalda de tubos de plástico, fundo acastanhado de relva em via de sequeiro.
Aqui e ali, laranjeiras tímidas, convalescentes de anemia.
Repousando na racha, um lençol de água parada onde equipas de biólogos marinhos aguardam o nascimento entre o lixo, de filhotes de rãs de pântano para competir com as raças apuradas do Oceanário.
Conservar a água adequadamente estagnada a fim de não alterar a ecologia dos mosquitos que ali se criam para ferrar os transeuntes e alimentar as ansiadas rãs, é certamente tarefa especializada e árdua, de tirar o sono. Mas tem sido conseguida, só o mayor saberá com quanto esforço e know how!
Manter o motor da fonte sem trabalhar é coisa gabada e invejada nos melhores centros de engenharia por esse mundo fora, que enviaram espiões industriais para descobrir o segredo.
Dentro de séculos, quando a desertificação de Faro obrigar a substituir as camionetas por camelos, os Farólogos porfiarão na descoberta da tecnologia aplicada, tão avançada como o foi na época, a utilizada para construção das pirâmides do Egipto.

* Digo eu :- Também conhecida pela rotunda da Vagina!