terça-feira, junho 21

RIA FORMOSA

Recebi o mail que transcrevo até pela importância que tem para nós, algarvios!

Ria Formosa
Senhor Leitor: adapte-se ao País em que vive! Quer uma casa junto à praia, com vista magnífica, num ambiente excepcional, e que lhe pode dar rendimentos chorudos no futuro? Não hesite! Ao longo dos 800km do litoral português escolha o local que mais lhe agrada. Entre as zonas mais apetecíveis ressalta a Ria Formosa. Compre uns tijolos e umas sacas de cimento, convide uns amigos e construa a casa que lhe agrada. Não convém ser, logo de início, muito grande. As ampliações sucessivas virão depois! Construa-a rapidamente, se possível para que, numa única noite, fique com telhado: assim, poderá ainda aproveitar este verão, além de que lhe poderá evitar algumas inconveniências, como a de lhe tentarem embargar a obra! Se a embargarem, não ligue e continue a construção: ninguém fará nada de significativo e, como sabe, mesmo que o caso vá para tribunal, se arranjar um bom advogado, acabará por terminar a sua longa vida sem o caso ficar resolvido, isto se o caso não prescrever antes! Pelo sim, pelo não, transforme oficialmente essa casa na sua habitação principal, e se tiver uma vivenda legalizada com todas as comodidades diga que é a sua habitação secundária. No verão, como por certo só passará na sua casa de praia (habitação teoricamente principal) um mês de férias, alugue-a o resto do tempo. Sabe quanto poderá lucrar? Com isso poderá passar o resto das férias no Brasil, ou na Tailândia, ou noutro qualquer destino turístico mítico.
Não se preocupe com a titularidade do terreno: é nosso!

Não se preocupe com projectos e licenças: é uma trabalheira a evitar além de que é um gasto de dinheiro escusado!

Não se preocupe se inicialmente não tem luz eléctrica e água canalizada: mais tarde ou mais cedo a Câmara tratará disso (e cobrará as taxas correspondentes)!

Não se preocupe se, no inverno, o mar lhe vier ameaçar ou mesmo destruir parte da casa: o Estado acorrerá a protegê-la!

Não se preocupe se o Estado ameaçar demolir a sua casa clandestina: o próprio Estado se oporá à demolição, além de que não há dinheiro para isso!

Não se preocupe se vir os turistas que interessam deixarem de vir para esta região, escolhendo outros destinos turísticos, no estrangeiro, e aí deixando o seu dinheiro: o governo arranjará alguma forma de "sacar" dinheiro à União Europeia!

Não se preocupe se vir as dunas desaparecerem, a maré avançar até quase à sua porta, o ambiente circundante ficar completamente degradado: será muito azar que alguma coisa realmente nefasta ocorra durante a sua vida, e depois disso, eles (os nossos filhos e netos) que se amanhem!

Não se preocupe com problemas de consciência ambiental, com o desenvolvimento sustentável, e com outras "tretas" do género: em Roma sê romano . e nesta "Roma" que é o nosso País, os "romanos" são assim!

Dizia Eça nos Maias: "Nunca houve uma choldra assim no Universo".

E como dizia Ruy Belo no poema Portugal Sacro-Profano Lugar Onde: "Neste país sem olhos e sem boca" é fartar vilanagem.

Por João Alveirinho Dias, professor associado da Universidade do Algarve, é o coordenador científico do entro de Investigação os Ambientes Marinhos e Costeiros daquela instituição. Natural de Castelo Branco, com 55 anos, licenciou-se e doutorou-se em geologia pela Universidade de Lisboa onde, desde 1992, é professor convidado para as áreas de geologia marinha e geologia costeira.