segunda-feira, julho 11

Artigo de António Barreto.

Recebi este artigo por mail e apesar de extenso partilho-o convosco

RETRATO DA SEMANA por ANTÓNIO BARRETO



Incompetentes ou mentirosos. Não há volta a dar. Se José Sócrates e os seus amigos, que se dizem "chocados" com o que descobriram, não sabiam o estado em que se encontravam a economia e as finanças do país; não suspeitavam do défice real do Estado; não conheciam os compromissos assumidos pelos governos anteriores; não tinham feito as contas a partir dos inúmeros dados públicos do Banco de Portugal e do Instituto Nacional de Estatística; nem tinham lido a vasta literatura em jornais e revistas publicados ao longo destes anos; então, são simplesmente incompetentes. Isto é, não souberam desempenhar as suas funções de oposição. Não foram capazes de obrigar os governos a tornar públicos os elementos que possuíam; não conseguiram utilizar os meios legais que tinha à disposição para forçar as instituições a fornecer-lhes a informação indispensável; não levaram a sério o trabalho de deputados, para o que foram razoavelmente bem pagos durante uns anos; não lhes ocorreu fazer breves
contas de somar, com todas as parcelas que, de uma ou de outra maneira, iam sendo reveladas; não consultaram as bases de dados do EUROSTAT; e não leram os boletins do Banco de Portugal, nem os relatórios da UE e da OCDE, assim como não perceberam os trabalhos de previsão das instituições especializadas, nem sequer leram ou compreenderam os relatórios da Economist Intelligence Unit. Mais: não quantificaram as suas propostas eleitorais, não estudaram as implicações dos seus projectos, nem calcularam os custos das promessas que fizeram. Pior ainda, não leram o orçamento para 2005 preparado pelo anterior governo e, se o leram, não perceberam. Em conclusão, não cumpriram os seus deveres, não fizeram os trabalhos de casa. Nem sequer leram os trabalhos que Medina Carreira publica há anos nos jornais, nem ouviram o que Silva Lopes lhes diz regularmente. São, simplesmente, incompetentes.

Mas existe outra hipótese. São inteligentes. Cumprem os seus deveres. Seguiram com atenção a evolução económica e financeira do país. Desempenharam dignamente as suas funções de oposição. Perceberam as manhas e as deficiências do governo anterior.Conheciam as dificuldades em que o país se encontrava. Suspeitavam da dimensão efectiva do défice. Estudaram. Leram tudo o que havia para ler. Fizeram contas. Sabiam que os primeiros anos seriam difíceis. Sabiam que, poucas semanas depois de iniciarem funções, teriam de aumentar o IVA, o IRS, os tabacos e os combustíveis, como seriam obrigados a congelar o emprego e as promoções na função pública. Tinham a certeza de que tomariam medidas para aumentar a idade da reforma e reduzir a indemnização paga pelas baixas de saúde. Não tinham dúvidas de que, mais dia, menos dia, teriam de aumentar as portagens e acabar com a fantasia das SCUTS, o que talvez só fosse conveniente depois das autárquicas. Sabiam isso tudo e mais ainda
relativamente às reformas e pensões, aos vencimentos da Administração e às contrapartidas do Estado para a Saúde e a educação. Só que... ninguém conquista a maioria e o poder com promessas desse tipo. Para lá chegar, seria necessário o contrário, mostrar que tudo era possível, que os impostos não aumentariam, que se deveria apostar no investimento e no crescimento, que havia recursos para melhorar a protecção social e para alargar os benefícios da educação. Depois, logo se veria. Mostrariam que nada sabiam, que o défice tinha sido escondido pelo governo anterior, que os relatórios internacionais nada tinham previsto. Se foi esta a escolha, são mentirosos.

Os danos causados na população e na reputação da política são, por anos, irrecuperáveis. A discussão sobre a origem do défice, as suas causas e os seus responsáveis, tem uma só consequência: ninguém acredita "neles".
"Eles", os partidos. "Eles", os primeiros-ministros e os ministros das Finanças. Os próprios aficionados, despachados para as televisões para "explicar" ou "criticar", mostram total falta de convicção e um indesmentível desconforto. Culpam-se descaradamente uns aos outros. Acusam-se dos piores malefícios. Mostram o pior de si próprios. A fuga de Guterres e a enormidade dos compromissos por si assumidos criaram uma semente de descrédito. O abandono de Barroso, após um exercício de mentira e encenação parecido com o de Sócrates, esteve na origem de uma nova fonte de desconfiança. O despautério de Santana, que garantiu que as dificuldades estavam acabadas, abriu as portas ao desprezo pelos políticos. A actual ficção de Sócrates, apesar de melhor encenada, confirma a tendência exibida nestes últimos anos: a política portuguesa parece-se cada vez mais com uma actividade delinquente.

Apesar de firme adversário do federalismo e da Constituição europeia, sempre fui favorável ao euro e à sua adopção pelo Estado português. Esperava que a adopção da moeda única ajudaria a pôr na ordem os nossos políticos, lhes diminuiria a irresponsabilidade e reduziria a demagogia caseira. Entre outras vantagens, impediria os nossos líderes de continuar a usar as taxas de juro e de câmbio como instrumentos de disfarce das suas políticas. Até hoje, os resultados foram, em parte, positivos. Com efeito, os juros estão baixos e nunca mais a desvalorização veio castigar os cidadãos que vivem do trabalho. Todavia, o euro, por si só, não basta. Contra a demagogia e a irresponsabilidade, outros dispositivos são necessários. Na verdade, é preciso encontrar quem, sem matar a liberdade, meta na ordem os políticos nacionais. Nos tempos que correm, só vejo um meio: a Europa.

Venha a Europa! Chame-se a União! Solicite-se às agências de fiscalização do défice um exame das contas portuguesas. Abra-se um inquérito à delapidação dos dinheiros públicos, à falta de rigor e à demagogia. Instaure-se imediatamente um processo contra o Estado português por abuso e desperdício de recursos públicos. Faça-se com que os tribunais e o Banco Central Europeu executem prontamente o conjunto de sanções previstas, a começar pelas multas e a acabar na suspensão de fundos de coesão. Peça-se à União que lance um embargo sobre fundos em curso de utilização, suspendendo novos pagamentos até que se vejam sinais inequívocos de que Portugal está a entrar no bom caminho. Mostre-se às agências de rating toda a verdade, a fim de que Portugal pague mais caro pelas suas loucuras. Os portugueses só mudarão de costumes se forem postos perante o inevitável e a necessidade. E os políticos só aprenderão se forem castigados, se lhes retirarem os recursos para a sua demagogia e se
passarem pela vergonha pública de serem designados como mentirosos e incompetentes. Por vontade própria, não o farão. Já os conhecemos.


ANTÓNIO BARRETO

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Apeteceu-me deixar de vir a este espaço com o radicalizar das questões... Volto contudo. Fraqueza minha. Para dizer que neste país, de enredos e teias, onde tudo em rede, se influencia e promove mútuamente, a mentira e a omissão são apreciados. Como chegámos a este estado da Nação? Como sairemos daqui?
(mar)

9:20 da tarde
Blogger Português desiludido said...

Retirei do artigo esta frase "...a política portuguesa parece-se cada vez mais com uma actividade delinquente."
julgo que isto diz tudo.....

10:32 da tarde
Blogger armando s. sousa said...

António Barreto é um dos portugueses mais brilhantes apesar de ser votado ao ostracismo pelas diversas correntes governativas, que estão muito longe de lhe chegarem aos calcanhares. Li este artigo no Público.
Quando estive de férias em Cuba, ouvia esta música no minimo 10 vezes por dia em versões radicalmente diferentes, no entanto nunca tinha ouvido esta. Um abraço

11:17 da tarde
Blogger Unknown said...

subscrevo inteiramente o escrito pelo Barreto ... talvez seja por isso que ele já não tem padrinhos nem no seu partido nem nos partidos dos outros ...

1:39 da manhã
Blogger estrela said...

olá Pedro...td bem??
Obrigada pelas visitas que me tens feito e por gostares do meu bloguito.

já vi que gostas de assuntos sérios ou polémicos, eu prefiro não comentar, já basta ter que ser sériia e pensar na vida no dia a dia...
aqui na net venho para descontrair...acho que é melhor assim!
fica bem, bjocas

10:03 da manhã
Anonymous Anónimo said...

Cool blog, interesting information... Keep it UP »

7:25 da tarde

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