domingo, junho 17

"Retornados"

Quando em 1974/75 Portugal começou a "descolonização exemplar" das antigas colónias ultramarinas, os portugueses aí residentes foram obrigados a optar entre a "morte ou a fuga"! Foi assim que muitos vieram parar à "sede da Pátria Lusa", e foram apelidados de "retornados"!
Este termo tinha na altura uma forte carga "discriminatória e humilhante"!
Mas, note-se que este termo foi "arranjado" pelo próprio governo, com a criação do IARN! E se é verdade que muitos desses portugueses retornaram a Portugal, muitos outros não retornaram! Retornar é voltar a..., regressar a,...e esses portugueses que tinham nascido e crescido nas colónias, acabaram por vir parar a Portugal e não retornar!
Vem isto a propósito de ontem ter ido almoçar às Caldas da Rainha, almoço de antigos alunos e professores do Xai-Xai, cidade moçambicana que conheci no ano passado quando visitei aquele país! A minha presença ficou a dever-se ao facto da minha mulher ter estudado naquela terra!
E uma vez mais constatei que aquela gente é muito especial pela positiva!
Como sabem, fiz o serviço militar em Moçambique! Foram 2 anos de contacto com as gentes locais, num convivío quase diário e integrei-me perfeitamente na sociedade local! Conheci muita gente, sabia como viviam, o que tinham, pelo que lutavam, e admiráva-os! Vi-os começar a chegar a Porugal, a grande maioria absolutamente sem nada!!!
Pensem um pouco! Se agora uma qualquer convulsão nos obrigasse a fugir das nossas casas e a deixar tudo para trás, como seria a nossa reacção? E teríamos "força" para recomeçar tudo de novo?
Os "retornados" sofreram privações de toda a espécie!Foram apelidados de quase tudo, "morreram e foram obrigados a ressucitar" e agora "olham para trás com uma paixão pelas suas terras, usos e costumes, que as palavras não conseguem descrever"!
A grande maioria dos retornados "deu a volta por cima" e são hoje fonte produtiva de Portugal! Nos últimos tempos, cerca de 200 mil portugueses foram para Angola! Há já quem defenda a teoria que o futuro de Portugal passa pela emigração para aquele país! Provávelmente, muitos desses portugueses são agora "retornados" naquela terra que ajudam a renascer, ao mesmo tempo que ajudam Portugal, por razões óbvias!
E assim, muitos "retornados", depois de espoliados, ainda vão ajudar Portugal....
Obrigado aos "retornados" pelo que têm feito por este país! Aos meus Amigos Moçambicanos um grande abraço e que continuem a alimentar de forma tão admirável, as saudades pelas suas terras" Hambanine!
O tema musical é interpretado pela moçambicana Mariza-"Ó gente da minha terra"

13 Comments:

Blogger Carla said...

Pedro,
Deixa-me dar-te os parabéns por este texto e pela forma como abordas o tema dos "Retornados", que na altura foram muito discriminados por aqueles que não sairam do próprio País, e que sofreram na pele muita fome e muita miséria ao deixar um pais que se tinha tornado na "sua casa".
Muitos, como dizes e bem deixaram para trás todo um trabalho de uma vida, regressaram sem absolutamente nada, fugidos de uma guerra onde conseguiram salvar-se alguns ainda hoje nem sabem como, e sobreviveram, regressaram foram rotulados, receberam poucas ajudas, porque o IARN era só para alguns...
Alguns... muitos que nem sequer eram retornados ou precisavam de ajuda, foram na realidade quem acabou por beneficiar...
Mas o que realmente importa, é que apesar de tudoconseguiram "dar a volta" por cima e orientar de novo a sua vida, e concordo quando dizes que são muitos esses "retornados" que hoje são meio de produtividade do país em que estamos.
Os meus pais pertencem a essa classe intitulada de "retornados", a quem lhes foi imputado sofrimento gratuito e marcas que carregarão até ao fim dos seus dias.
Eu e o meu irmão nascemos em Angola, e se agora eu voltasse à minha terra natal, também eu seria uma retornada, como muito bem dizes no teu texto, como também dizes e muito bem, muitos como eu que nasceram lá, outros que voltaram, são aqueles que agora ajudam o pais a crescer.
Sempre ouvi dizer aquilo que disseste no teu texto, que são pessoas diferentes, talvez sejam... talha da vida pelo que passaram, pela coragem que tiveram, pelo respeito à vida já que conviveram de muito perto com a morte.
Daqui a umas semanas, curiosamente vou publicar uma pequena história, em versão "light" com 6 ou 7 capitulos, onde falo da fuga de uma familia do cenário de guerra em Angola em 76, esse conto chama-se "A batalha dos Inoventes", pela sobrevivencia claro!
Prometo avisar-te quando começar a publicar a história para o caso de quereres ler.
beijinhos e mais uma vez parabéns, gostei imenso de te ler, o que se nota pelo comentário "avantajado"...
bj

4:41 da tarde
Anonymous Anónimo said...

Olá Pedro.
Gostei muito de ler o teu texto, em poucas palavras dizes tudo!
É de facto o que nós nascidos naquela terra Moçambicana, sentimos.
Parabéns pela descrição e Bem hajas!!!
Bjs
Ermelinda.

5:16 da tarde
Anonymous Anónimo said...

Grata por relatar tão bem o que nos vai na alma. A minha família tem 107 anos de África e tiveram a lata de me chamar "retornada"... pobres almas que não tiveram a vida que eu tive, nem sentiram o que eu senti e não tiveram as raízes que eu tive. Agradeço a Deus por me ter feito passar o que passei. Cresci, fortaleci, perdoei e enfim...vivi e não vegetei.

Fernanda Simões

5:51 da tarde
Anonymous Anónimo said...

Parabens pelo seu texto. É preciso recordar no entanto que houve retornados de 1º. e de 2º., isto a nivel do funcionalismo publico.
1 - funcionarios vindos de moçambique, recebiam o vencimento por inteiro.
2º. funcionários vindos de angola, recebiam 60% dos 70% do vencimento.Para que conste. Mário

12:40 da manhã
Anonymous Anónimo said...

...e quantos criados tinham ?

5:32 da tarde
Blogger GTL said...

música fantástica
MDB

2:06 da tarde
Blogger (ZE)2 said...

Tudo o que disseste é verdade, mas os que por cá viveram, e os que emigraram para o estrangeiro porque não tinham carta de chamada para as "´províncias ultramarinas", também tiveram que aguentar este país, na altura, que tinha que pagar a guerra em todas as frentes. Quantos foram os que levantaram a voz para resolver esse assunto a tempo de evitar o pior ? A maioria acomodou-se.
Dentro dos condicionalismos existentes, podia ter corrido muito pior. Os franceses da Argélia que o digam...

6:38 da tarde
Blogger Mikas said...

Ora cá estou a matar saudades deste espaço. :-)

10:26 da tarde
Anonymous Anónimo said...

Havia discriminação muito antes de 74. A grande maioria da população no Continente vivia assim: Fome, crianças nuas, sem escolas, e nenhuma assistência médica. Depois do 25 de Abril, houve imenso
oportunismo, e, muitos foram os ditos "retornados" com documentos que não existiam, mas forjados à pressa, conseguiram aquilo que queriam.Mas, eu não os culpo. Critico este tipo de blogs e reuniões/almoços sectaristas que não ajuda a inteligência de pessoas do sec. XXI. Assim, continua a discriminação

10:11 da manhã
Anonymous Anónimo said...

É uma opinião....

12:50 da tarde
Anonymous Anónimo said...

De facto toda a essência do colonialismo não foi positiva, logo os colonialistas também não o foram. Apenas foram à procura da oportunidade que, naquela altura, era facilmente confundida com o Oportunismo, pois as oportunidades não surgiam para todos conforme alguém aqui apontou. O mesmo não se pode dizer da emigração, pois não assenta nos mesmos moldes. Se pensarmos bem, naquela altura, conseguir um passe para ir para angola ou moçambique, deveria ser o mesmo que conseguir uma autorização para ir ao Algarve, pois o território era administrativamente nosso (Português), ou seja, se uns conseguiram ir e outros não, algo de muito negativo se passava. Tão negativo que falhou e certamente graças à qualidade de portugueses que por lá andaram, (e eu também tive lá raízes, pelo que não me isento de culpas). Os exemplos da Inglaterra não foram os mesmos, que até hoje conseguem manter boas relações com as ex colónias, talvez por terem sabido qual a altura certa para sair. Assim, os retornados podem ser saudosistas da condição de exploração que vivenciaram por força de um regime absolutamente estúpido, mas não passa disso mesmo...saudosismo. Deixo um conselho...recordem as boas paisagens, a cultura
e as boas gentes que por lá encontraram e lamentem o tanto mal que lhes fizeram.

9:54 da tarde
Anonymous Anónimo said...

Oi, achei teu blog pelo google tá bem interessante gostei desse post. Quando der dá uma passada pelo meu blog, é sobre camisetas personalizadas, mostra passo a passo como criar uma camiseta personalizada bem maneira. Até mais.

4:30 da manhã
Anonymous Anónimo said...

Pedro:
Oportuno......para relembrar o que muitos gostariam que esquecessemos!

Um abraço.

B.A.

3:55 da tarde

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