sexta-feira, maio 12

Chernobil: Vinte anos depois ...

Chernobil: Vinte anos depois nenhum número é definitivo!

Vinte anos volvidos sobre o desastre na central nuclear de Chernobil, os especialistas na matéria ainda não tem pareceres definitivos sobre o raio de alcance da contaminação radioactiva e o carácter de mutações que marcarão homens, animais e plantas da Europa Central.
Tão-pouco há números exactos de vítimas humanas e ainda se discutem as consequências sobre o ar, água e o solo.
O estudo conjunto efectuado pela Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA) e a Organização Mundial de Saúde, divulgado em Setembro passado, refere que cerca de quatro mil pessoas morreram em consequência directa da explosão de 26 de Abril de 1986.
Na véspera do 20º aniversário, peritos do Comité científico da ONU sobre o efeito da radiação nuclear tornaram pública uma análise «conciliadora», instando os quase cinco milhões de residentes nas áreas mais afectadas pela radiação na Ucrânia, Rússia, Bielorrússia, Lituânia e Polónia, a não sobrestimarem os efeitos da radioactividade.
O «stress» e o pânico produzidos pelas informações sobre a ameaça radioactiva têm sido, na óptica dos especialistas da ONU, mais nefastos para a saúde humana, do que o próprio nível de radioactividade.
Têm sido bem mais alarmantes as avaliações feitas por organizações não oficiais.
O sarcófago construído «à pressa» em Maio de 1986 sobre as ruínas do reactor 4 que explodiu foi calculado para 15-20 anos e não garante o devido isolamento das substâncias radioactivas que continuam a escapar através de ranhuras para o ar e para as águas subterrâneas, alertam especialistas não-governamentais.
No momento da avaria, estavam dentro do reactor quase 190 toneladas de combustível nuclear.
Segundo várias estimativas, actualmente poderá estar no reactor entre 70 e 93 por cento daquela massa radioactiva, alguns elementos da qual têm o período de semi-desintegração (ou diminuição de metade de radioactividade) «marcado» para daqui a centenas de anos.
De acordo com estimativas de diversos grupos de peritagem nuclear, depois da explosão em Chernobil as precipitações radioactivas caíram sobre quase 40 por cento do território europeu, fazendo com que pelo menos dois terços de radioactividade afectassem os habitantes de países da Europa ocidental.
A esta conclusão chegaram os médicos britânicos Ian Fairlie e David Summer, autores do estudo intitulado «O Outro Relatório Sobre Chernobil (TORCH), investigação científica independente dos efeitos sobre a saúde e o meio ambiente, publicada este mês em Berlim, Bruxelas e Kiev.
O número de mortos em resultado de cancro provocado pela catástrofe pode estimar-se entre 30 e 60 mil, o que ultrapassa entre 7 e 15 vezes os prognósticos oficiais da AIEA e OMS, salientam os investigadores.
As estimativas do Greenpeace divulgadas no site desta organização ambientalista, são ainda mais pessimistas.
A organização ecologista cita a probabilidade de cerca de 93 mil mortes provocadas pela radiação de Chernobil, no período entre 1986 e 2056. Só na Bielorrússia, o país mais afectado pela radiação, dos 31 mil casos de habitantes com cancro da tiróide actualmente registados, cerca de 14 mil podem ser mortais e, dos três mil doentes com leucemia, quase 2.000 poderão morrer.
Conforme os cálculos do ministério da Saúde da Ucrânia, mais de 124 mil pessoas morreram em resultado de doenças provocadas pela radiação, até 1994.
Segundo os dados oficiais, 200 mil pessoas foram retiradas, logo após a avaria, de uma área de 30 quilómetros em redor da central de Chernobil.
Juntamente com as tropas, bombeiros e especialistas que participaram na descontaminação da central e dos terrenos adjacentes, o número total das pessoas contaminadas só em 1986 e 1987 pode variar entre 200 e 800 mil.
Hoje, na região de Chernobil residem 2.300 mil pessoas. Dentro da área sujeita ao controlo especial radioactivo, encontram-se permanentemente 1.600. Não longe do reactor 4 moram 400 pessoas.
Este ano, o governo da Ucrânia, com a ajuda da União Europeia, inicia a edificação de um novo sarcófago reforçado que cobrirá o velho e gasto construído sobre o reactor 4.
A obra, avaliada em quase 2.000 milhões de euros, deverá garantir, nos próximos 100 anos, o isolamento da reacção em cadeia em curso no interior daquele «vulcão». Se nada falhar, entretanto...
Diário Digital / Lusa